O Resgate da Araruta: Como o SAF Fortalece a Saúde, a Soberania Alimentar e o Clima

O Resgate da Araruta: Como o SAF Fortalece a Saúde, a Soberania Alimentar e o Clima.

A araruta (Maranta arundinacea), uma Planta Alimentícia Não Convencional (PANC) e espécie nativa da América do Sul, carrega em seu rizoma um legado de séculos, sendo cultivada e consumida por populações pré-colombianas, no caso do Brasil, muito utilizada no Norte e Nordeste. No entanto, esta cultura ancestral, que seu cultivo e consumo oferecem valores nutricionais únicos, mas foi sendo gradualmente substituída por cultivos industrializados com base na farinha de trigo.

Araruta (Maranta arundinacea)

Um Tesouro entre Gerações em Pleno Resgate

O agricultor e associado Edvaldo Oliveira, responsável pelo projeto Lab de PANCs, conduz uma iniciativa da Bauhinia eco-social, dedicada a testar e recuperar cultivos tradicionais utilizados por famílias rurais, mas que desapareceram do cotidiano devido à padronização alimentar das cidades e à expansão dos ultraprocessados.

Edivaldo a esquerda

Desde pequeno, Edvaldo ouvia sua mãe falar sobre a araruta — uma memória afetiva que se transformou em curiosidade técnica e revolucionária. A partir de um curso organizado pelo Instituto de pesquisa APTA de Pindamonhanga (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios), vinculada às secretarias de agricultura e abastecimento de São Paulo, Diva decidiu aprofundar seu conhecimento e iniciar o processo de resgate da espécie. Assim, adquiriu cerca de 300 rizomas para plantio, hoje implantadas no Sítio Nossa Fazenda, Sítio Adalgiza e Manoel, Sítio da Marlene, Escola de Agroecologia de Parelheiros, Chácara Cassiano e Lopes e Cooperpac, todas as propriedades localizadas no extremo sul de São Paulo.

O próximo passo do projeto é igualmente valioso: reaprender e registrar o método tradicional de produção do polvilho, em parceria com pessoas que ainda guardam esse conhecimento.

Na Bauhinia, o projeto que resgata as PANCs acontece por meio da implementação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), que fortalece a segurança e a soberania alimentar, além de valorizar a sociobiodiversidade. O trabalho em rede, entre agricultores, organizações e comunidades é essencial para reintroduzir cultivos ancestrais e promover uma alimentação mais diversa no tempo que comer também é um ato de resistir.

O Poder Nutricional da Farinha de Araruta

A farinha (ou polvilho) de araruta é conhecida por ser mais fina e nutritiva que as farinhas comuns. Seu principal diferencial é ser naturalmente livre de glúten, tornando-a uma excelente alternativa para celíacos ou pessoas com sensibilidade alimentar.

Subprodutos da Araruta

Além disso, seu consumo oferece diversos benefícios à saúde, impulsionados por sua composição rica:

  • Saúde Intestinal e Imunidade: A araruta contém amido resistente e fibras, que agem como um prebiótico, alimentando a microbiota benéfica do intestino e fortalecendo o sistema imunológico. É frequentemente recomendada para problemas digestivos e auxilia no tratamento de diarreia ou constipação.
  • Controle Metabólico e Cardiovascular: Sua composição rica em potássio atua como vasodilatador, ajudando a reduzir a pressão arterial e diminuindo os riscos de doenças cardiovasculares. As fibras também contribuem para o controle da glicemia e para a redução dos níveis de colesterol LDL.
  • Fonte de Energia Sustentada: O amido da araruta é de fácil digestão e libera energia gradualmente ao longo do dia, sendo uma ótima fonte de energia para um estilo de vida ativo.

Para saber mais sobre os valores nutricionais da araruta,  indicamos a leitura no Slowfood Brasil: https://slowfoodbrasil.org.br/arca_do_gosto/araruta/)

Araruta e o Sistema Agroflorestal: Uma Parceria Resiliente

O cultivo da araruta em Sistemas Agroflorestais (SAFs) maximiza seus benefícios ecológicos, tornando-a um exemplo de planta rústica e resistente em um sistema de cultivo resiliente, conforme observado por nossos parceiros no campo:

  1. Resiliência Climática e Hídrica: Por ser rústica, a araruta em SAF diminui ou exclui a necessidade de irrigação e de uso de insumos externos, além de fazer diminuir as perdas por consequências das mudanças climáticas.
  2. Saúde do Solo e do Agricultor: Este sistema dispensa o revolvimento constante do solo e torna o ambiente de trabalho mais agradável, com um clima mais ameno dentro do sistema agroflorestal.
  3. Multiplicação em Rede: O cultivo descentralizado é um pilar do projeto. A araruta tem sido plantada em diversos locais, como na Nossa Fazenda, Sítio da Luzia, Escola de Agroecologia e Cooperpac, promovendo a troca e o compartilhamento de informações e experiências.
Curso organizado pelo Instituto de pesquisa APTA de Pindamonhanga (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios)

Investir na Sociobiodiversidade

O resgate da araruta em Sistemas Agroflorestais é um exemplo concreto de como unir conservação da biodiversidade e do patrimônio de receitas e da cultura alimentar brasileira. O Lab de Pacs tem o objetivo de promover uma alimentação mais saudável e inclusiva, construir sistemas de produção mais resilientes ao clima e fortalecer a economia e o conhecimento em rede. Apoiar o cultivo da araruta é afetivo e um modo de contra-atacar o modelo alimentar que se impõe aos brasileiros.


Bibliografia e Fontes Científicas

(Referências de Experiência da Rede Bauhinia)

  • Informações fornecidas pelo agricultor Edivaldo sobre o plantio de araruta em SAFs (cultivo, resiliência climática, trabalho em rede).

Compartilhe esse post:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *